quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O tempo

Ela estava ali do outro lado da rua e 15 anos mais velha. Demorei alguns segundos para lembrar seu nome. Détinha, a menina mais linda da quarta série do Colégio Alcântara Machado. Tinha os cabelos castanhos claros, um sorriso lindo sempre presente e olhos que me hipnotizavam. Chegava cedo para sentar na primeira carteira e eu mais cedo ainda para conseguir a segunda. Entre um problema e outro de matemática, estudava para o provão daquele ano: descobrir o nome do seu perfume.

Dela roubei meu primeiro beijo, senti o primeiro frio na barriga. Por ela, dancei forró, aprendi sobre papéis de carta, pulei elástico, deixei de rodar peão, joguei vôlei e ganhei um concurso de lambada.

Pensei que nunca mais a veria, mas ali estava. Os anos e Détinha não foram grandes amigos. Ao contrário do seu decote, ela não cresceu muito desde a última vez que nos vimos. O cabelo já tem mais de 5 cores e o sorriso escolheu o amarelo como cor única. Ela fala alto ao telefone, masca chiclete de boca aberta e usa um shortinho curto para mostrar todo o recheio que não lembra nada a época que era um sonho.

Foi como ir ao zoológico depois de grande. A primeira vez é inesquecível, você fica horas esperando pelo leão. E quando finalmente consegue ver, comemora mesmo que tenha visto apenas o rabo mexendo. 10 anos depois, você percebe que o grande rei da selva é na verdade um gatinho com cara de fome que em vez de rugir: boceja.

Ela me viu, atravessou a rua correndo em minha direção. Eu fiquei parado. Olhei pro chão. Congelei. Ela me abraçou e disse:

- Bruno, que saudade! Sou eu, a Détinha!

Respirei por 2 segundos. Lembrei do nome do seu perfume, do primeiro filme que vimos juntos, do número da sua casa e fiquei em dúvida se seu gatinho chamava Pepito ou Chespito. Fato esse que me distraiu e sem pensar respondi:

- Desculpe, mas você deve ter me confundido com alguém. Meu nome não é Bruno.

Ela se assustou com a resposta. Eu também. Ela se desculpou e eu passei a ver suas costas enquanto ainda tentava recuperar as palavras. Détinha foi embora. Voltou para o lugar onde muitas coisas não deviam sair nunca: nossa memória.

8 comentários:

Unknown disse...

Tadinha da menina! rs!

Saudades de vc! Espero q no final do ano vc esteja em SP pra gente se encontrar.

Bjs

Anônimo disse...

e mais uma vez meu braço arrepiou... mas se chegar pra mim com esse papo de que esse não é seu nome, em qq dia da sua vida, corto seu pinto!
amo
:*

Revisora do P... disse...

É engraçado, ou estranho quando a gente encontra pessoas que fizeram parte das nossas vidas e não fazem mais. Perceber que elas já não são mais bonitas, interessantes, inteligentes, importantes, especiais como um dia já foram. Neste caso o lugar delas é no anonimato mesmo, na lembrança, na coisa importante que elas fizeram por nós quando era a vez delas no nosso destino, na nossa história.
Isso não vai acontecer, mas se um dia você fingir que não me conhece, te capo!!!!!ehheheheheheheh
Espero que ajudemos o outro a escrever história sempre.

Diego Costa disse...

É sempre estranho pensar como seria nossa reação ao ver aquela pessoa q vc gostava, é tão estranho pq a reação é sempre diferente do q vc sempre pensou em fazer...

Brunão, curti seu texto...

www.nossomundoimundo.blogspot.com

Vinícius disse...

Nesse feriado, retornei aos meus 16. Sensação estranhíssima reencontrar uma menina que sumiu da minha vida. Sensação estranhíssima encontrar comigo mesmo naquela época.
Abraço!

Anônimo disse...

Ai, como vc é grosso!
Era vc, então? Seu escroto.

Wolf disse...

Caralho, como eu nunca pensei nisso antes? Estou aperfeiçoando meu repertório de mentiras rápidas... demais!

Unknown disse...

Ótimo texto! Ja pensou em ser redator? :-D

Abs!